terça-feira, 26 de julho de 2016

Godzorder: Hoje tudo é manipulável e editável, mas não se aplica ao caráter



Como um cometa que destrói tudo a sua volta com seu impacto, o GODZORDER traz essa sensação pós apresentar ao mundo o EP “Obey”, que veio para abalar as estruturas do underground.
E assim os paulistanos de Jundiaí seguem seu caminho e por onde passam conquistam mais admiradores, levando sua sonoridade bruta e inteligente para quem aguentar um headbanging intenso e nervoso.
Conversamos com Rafael “Barba” (baixo/vocal) e Marco Mingote (bateria) sobre alguns aspectos por trás de “Obey”, o momento atual do Brasil, cenário nacional e muito mais.
Confira nas linhas a seguir:
Simbologia sempre foi algo forte no Godzorder. E algo que chamou muito atenção desde seu lançamento foi a bela capa do EP “Obey”. Conte-nos como surgiu essa ideia.
Rafael - Foi durante um churrasco em casa. Estávamos discutindo o assunto, sobre fazer uma arte de capa que chamasse a atenção até do Papa... (rs!) E foi então que o Marco lançou a ideia do ato da eucaristia, mas com o pequeno detalhe do logo da banda gravado na hóstia. Nessa hora o tempo parece que parou e rolou aquele silêncio estranho, uma reflexão, algo assim... Comecei a visualizar mentalmente essa imagem e tudo fez sentido. No mesmo dia, fiz um rascunho dessa ideia com montagem de fotos e enviei para todos da banda, inclusive para o Adair (produtor), e a aprovação foi unânime. Com isso definido partimos para o desenvolvimento da capa, primeiramente com um profissional de fotomontagem digital, que fazia um belo trabalho, porém estava fugindo do tema desfocando totalmente da proposta primária e assim, ambas as partes acabaram desistindo e o negócio foi desfeito.
Buscávamos algo que transmitisse uma expressão real, visceral, exclusivo, e foi quando um amigo sugeriu fazer uma fotografia do ato. Procuramos um fotógrafo que aceitou a ideia de trabalhar nesse tema em conjunto com a banda, produzimos o que era preciso para compor a imagem, com o Marco e eu como protagonistas da cena. Tiramos dezenas de fotos muito boas e escolher a que melhor interpretou o ato foi difícil, teve que ser decidido por eliminatória e levou dias! Feito isso, a foto selecionada foi tratada digitalmente ganhando o aspecto que definiria toda a atmosfera do restante da arte do EP.
Marco - Só não sabemos ainda o que o Papa achou... (rsrs)
Atualmente o Brasil e o mundo vivem de escândalos, se o Brasil tem a política destruindo cada vez mais nossa imagem, boa parte do mundo sofre com os atendados terroristas, que mostram a fragilidade de segurança em muitos casos. O que vocês pensam a respeito?
Rafael - Nojo é o único sentimento que tenho quanto à política do nosso país e acho que ainda está longe de começar a melhorar. Até evito debater sobre o assunto para não estragar o meu dia. Quanto aos atentados terroristas, não atribuo isso à falta ou fragilidade da segurança, e sim à ousadia de quem os pratica. E com a mídia enfatizando cada vez mais essas atrocidades parece que só faz aumentar o número desses “protagonistas” da destruição, já que desgraça dá IBOPE, traz prestígio, fama, popularidade e atos de bondade já nem tanto. O ser humano é uma criatura formidável e doentia, consegue fazer tudo de bom e tudo de ruim na mesma proporção, mas ultimamente o lado mau das pessoas está em destaque.
Marco - Isso é um assunto muito aterrorizante, a população mundial está em crise, estão matando e destruindo tudo por tão pouco, sem motivo algum. A maioria das vezes, alguns envolvendo a política corrupta, e os outros em tese a religião, coisa que na minha opinião, não tem nada a ver com estes atos que estão criando para toda a população mundial. No Brasil, precisaria de leis que fossem cumpridas e mais severas para certas coisas, talvez assim diminuiria um pouco mais os políticos e a política podre no nosso país. E quanto a religião, existe algumas desavenças, mas ainda não partiram para a ignorância como acontece nos países afora.
Ainda sobre polemicas, o Heavy Metal também foi alvo de algumas após o vocalista Phil Anselmo aparecer em um vídeo fazendo a saudação nazista e gritando White Power. Infelizmente separação de raças e preconceitos são corriqueiros no Heavy Metal, principalmente no lado mais extremo. Como vocês avaliam estas situações?
Rafael - No caso do Phil, ele foi infeliz ao agir desse jeito diante do público, mas isso só deu esse “mimimi” todo porque a pessoa que registrou essa cena decidiu causar e publicou o vídeo dando ênfase aos gestos e palavras do Phil.  Pronto! Manchou a carreira do cara para sempre. Mas quem postou o vídeo deve estar orgulhoso com os “zilhões” de views que alcançou, não importa se isso fodeu com a vida de alguém. E aí... quem é o “lobo mau” da história?

Ah cara... É um assunto delicado e complicado. Eu acho uma tremenda bobagem esse lance de preconceito “dentro da própria casa”. Todos perdem com essa atitude. Claro que cada um tem e defende sua ideologia e a do seu grupo, mas o radicalismo não justifica. Para mim, o que importa é a música. Se ela me agrada não importa sua origem, o compositor, o intérprete, a banda que toca... Por exemplo: Sempre curti Pantera e não me tornei nazista.
Marco - No meu ponto de vista, desde quando eu era criança as histórias do Heavy Metal já eram cabeludas nos bastidores, mas me aparentava ser bem pior. Hoje em dia ainda existe sim, do lado mais extremo quanto a ideologia de alguma coisa, mas vejo como isso perfil dos estilos. Comigo nunca surtiu efeito algum e nunca me influenciou em nada o que meus ídolos do Heavy Metal seguem, seja ele satânico, pagão, cristão, etc... Eu respeito qualquer que seja a ideologia de cada um. Se a música falar mais alto, para mim não tem problema algum.
Quanto ao caso do Phil foi bem forte, na minha opinião, ele fez o que fez porque realmente deve ter sérios problemas mentais, pois só levantou a bandeira de uma época que aterrorizou toda a população mundial... Nesta parte pessoal dele, na minha opinião, ele é um verdadeiro babaca, do lado musical do cara não tenho o que falar. É um gênio.
O cenário nacional sofre de um grande problema, produtores sem dinheiro fazendo eventos, ou com propostas que não beneficiam em nada as bandas. Mas por outro lado temos também os produtores honestos que se esforçam, mas aí quem não ajuda são as bandas, que em muitos casos nem o cartaz do evento compartilham. O que poderia ser feito para resolver tais problemas que parecem mais uma balança equilibrada para o lado ruim das situações.
Rafael - É a lei do magnetismo: os opostos se atraem...(rs) Pior que isso é realmente intrigante, parece que um foge do outro.

Acho que ambas as partes pecam em acreditar num conteúdo superficial e muitas vezes mentiroso produzidos para serem divulgados nos veículos da mídia. Deveriam pesquisar um pouco mais a fundo aquilo que procuram, ultrapassar a barreira dos números e imagens, pois hoje tudo é manipulável e editável, mas não se aplica ao caráter, a índole.

Ao ir além das pesquisas de superfície, os produtores honestos encontrarão as bandas que trabalham e fazem por merecer, porque “o buraco é mais em baixo”. Sempre.
Marco - Este assunto é bem sério, todos estão passando por momentos ruins, sendo do lado financeiro, de apoio e infraestrutura, e sabemos que existem casas de shows prestes a serem fechadas por conta disso. Isso eu acho que tem os dois lados da moeda, o povo que não faz fortalecer por não ter interesse de estar em determinados lugares para prestigiar o que está acontecendo de novo em sua região, sendo assim tudo perde a força, cai a venda de shows, cai o valor comercial das coisas e o interesse de ir atrás, as casas não lucram, e as bandas perdem espaço. Mudando a situação em que o nosso Brasil está talvez ajude um pouco, pelo menos do lado financeiro da população, tendo dinheiro fica mais fácil consumir em eventos e poder fazer parte do que está rolando em casas de shows.

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